A cada poucas semanas coloco neste blog um assunto novo. São muita coisas para refletir, vamos lá, uma de cada vez. Hoje é sobre a prática da tutoria. Depois de algumas semanas analisando e comentando atividades as dos alunos, já posso fazer algumas observações.
Primeiro é importante dizer que a filosofia do curso deve estar clara para os tutores no momento de comentar as atividades realizadas pelos alunos. No PEAD da UFRGS, os tutores acompanham os alunos muito de perto, estão sempre disponíveis para tirar dúvidas ao longo de todo o processo, dão retorno de todas as atividades dos alunos, ressaltando os pontos fortes das aprendizagens dos alunos e orientando-os a melhorarem a atividade quando falta algo, quando está demasiadamente vago ou quando o aluno desenvolveu o tema de forma superficial. É muito fácil e gratificante comentar atividades bem construídas, recheadas de bons argumentos e ecelentes reflexões. Porém, às vezes percebemos dificuldades dos alunos para compreender os objetivos da atividade, e então começam a construir uma argumentação circular ou repetitiva. Daí entra o tutor, que vai tentar perceber onde está "travando", vai puxar a ponta do nó e entregá-lo ao aluno para que este o desenrole. Esse tipo de intervenção exige uma atenção profunda na leitura das atividades e uma abertura do tutor para compreender a forma de cada aluno raciocinar.
Outro aspecto interessante sobre a prática da tutoria foi abordado na última aula do curso de especialização: devemos incentivar o aluno sempre a melhorar e cobrar dele que mostre esforço, pois nós acompanhamos todas as atividades e acompanhamos sua evolução; porém, mesmo que percebamos que o aluno apresenta várias dificuldades em determinada disciplina, não podemos massacrá-lo apresentando-lhe todas exigências de uma só vez. Existe a necessidade de o tutor perceber qual é o ponto central das dificuldades apresentadas pelo aluno a cada momento, qual a principal dificuldade, e ajudá-lo a solucionar todas elas, mas uma de cada vez, para que a aprendizagem seja realmente significativa, para que o aluno tenha condições de alcançar o aprofundamento desejado para o nível de graduação.
Por todas essas exigências no acompanhamento dos alunos, percebo ser muito importante, para não dizer imprescindível, a formação sólida dos tutores com cursos de pós-graduação, não apenas em tutoria, mas em temas relacionados à educação de forma geral, complementada com experiências em pesquisa, pois a filosofia do curso visa instigar a reflexão e o questionamento dos graduandos de uma forma que se aproxima muito da prática da pesquisa. Isso também é uma novidade, pois nas faculdades em geral temos contato com esse grau de questionamentos apenas no nível da pós-graduação. O acompanhamento dos alunos de um curso de graduação à distância como o PEAD não é uma atividade simples, e por isso é necessário prepara-se bem e buscar aperfeiçoamento constante.
segunda-feira, 21 de abril de 2008
quarta-feira, 9 de abril de 2008
Ainda projetos
Os projetos de aprendizagem têm como objetivo propiciar aos alunos a aprendizagem significativa. Num processo construtivista, o conhecimento prévio se desestrutura para permitir assimilação e um novo estado de acomodação dos saberes. Por isso, uma das exigências dos projetos é encontrar uma forma de tornar o conhecimento novo algo mais “palpável”, “familiar”, ao aluno por meio de relações que ele estabelece entra o conhecimento prévio e o novo. Para fazer essas relações, o aluno não pode se restringir a memorizar, mas precisa organizar informações, raciocinar sobre os processos que usou para chegar ao novo saber.
Léa Fagundes, em Aprendizes do Futuro, afirma que “o salto necessário se constitui em passar de uma visão empirista de treino e prática – controle e manipulação das mudanças de comportamento do aprendiz –, que tem orientado a prática pedagógica, para uma visão construtivista de solução de problemas” p. 13. Assim, o processo de aprendizagem passa pelas perguntas dos alunos e por suas percepções e dúvidas. Nas páginas 53 a 56, a autora apresenta um exemplo de como foram trabalhados conceitos da física com alunos a partir de uma brincadeira com bola, mensurando e comparando os chutes dos alunos. No início da atividade os comentários dos alunos denotam observações e incertezas e, por fim, chegam mesmo a compreender fenômenos bastante específicos da física relacionando-os com as experiências com a bola.
Penso neste momento na aprendizagem do conceito de tempo, como professora de História e tutora das disciplinas de Ciências Naturais e Estudos Sociais – ambas trabalharão a formação da noção de tempo, cada qual com seu enfoque. Com meus novos alunos de 5ª série, com os quais comecei a trabalhar a apenas uma semana, tive uma experiência interessante. Comecei justamente trabalhando a noção de tempo e os meios pelos quais podemos saber o passado – ouvindo alguém contar, lendo escritos de épocas mais antigas, das quais não restou ninguém pra contar a história, etc. É fundamental problematizar essas questões antes de começar a falar na origem do homem, na origem da escrita e das sociedades humanas há milhões de anos, pois como falar em milhões de anos se os alunos sequer sabem raciocinar em termos de décadas ou séculos? Comecei a perguntar sobre situações históricas como o atentado de 11 de setembro de 2001 – a maioria lembrava -, a morte do presidente Getúlio Vargas em 54 (“isso foi no Brasil sora? Ele era como é o Lula hoje?”) e o fim da escravidão em 1888. Perguntei se fazia pouco tempo ou muito tempo. Ao comparar as datas mais recentes com o fim da escravidão, acharam que a abolição já fazia um tempão. Porém, quando comparamos com a data de nascimento da avó mais velha mencionada em cada turma (que disputa pelo título de neto da avó mais velha!), eles perceberam que a avó tinha nascido poucas décadas depois do fim da escravidão no Brasil, e que a Bisavó provavelmente nasceu ainda durante o período escravista. Que surpresa! Não faz tanto tempo assim. Foi quase automático encaixar um comentário condenando o racismo como uma triste herança que deverá ser superada, ainda que isso esteja demorando – claro, dito com outras palavras, mais simples. Quiseram saber se já existia fusca quando a avó nasceu ou se só andavam a cavalo, entre outras questões interessantes. Acho que meu objetivo de sensibilizá-los para a passagem do tempo e as mudanças que o acompanham foi alcançado.
Depois dessa experiência penso que nós, educadores, precisamos desenvolver diferentes estratégias para trabalhar conteúdos específicos com cada faixa etária valorizando os conhecimentos e as experiências dos alunos para apresentar a eles conhecimentos novos. Ainda não sei como trabalhar os demais conteúdos com esse enfoque construtivista, muito menos como encaminhar um projeto, mas mesmo com dúvidas e incertezas, essa recente experiência foi incentivadora.
Léa Fagundes, em Aprendizes do Futuro, afirma que “o salto necessário se constitui em passar de uma visão empirista de treino e prática – controle e manipulação das mudanças de comportamento do aprendiz –, que tem orientado a prática pedagógica, para uma visão construtivista de solução de problemas” p. 13. Assim, o processo de aprendizagem passa pelas perguntas dos alunos e por suas percepções e dúvidas. Nas páginas 53 a 56, a autora apresenta um exemplo de como foram trabalhados conceitos da física com alunos a partir de uma brincadeira com bola, mensurando e comparando os chutes dos alunos. No início da atividade os comentários dos alunos denotam observações e incertezas e, por fim, chegam mesmo a compreender fenômenos bastante específicos da física relacionando-os com as experiências com a bola.
Penso neste momento na aprendizagem do conceito de tempo, como professora de História e tutora das disciplinas de Ciências Naturais e Estudos Sociais – ambas trabalharão a formação da noção de tempo, cada qual com seu enfoque. Com meus novos alunos de 5ª série, com os quais comecei a trabalhar a apenas uma semana, tive uma experiência interessante. Comecei justamente trabalhando a noção de tempo e os meios pelos quais podemos saber o passado – ouvindo alguém contar, lendo escritos de épocas mais antigas, das quais não restou ninguém pra contar a história, etc. É fundamental problematizar essas questões antes de começar a falar na origem do homem, na origem da escrita e das sociedades humanas há milhões de anos, pois como falar em milhões de anos se os alunos sequer sabem raciocinar em termos de décadas ou séculos? Comecei a perguntar sobre situações históricas como o atentado de 11 de setembro de 2001 – a maioria lembrava -, a morte do presidente Getúlio Vargas em 54 (“isso foi no Brasil sora? Ele era como é o Lula hoje?”) e o fim da escravidão em 1888. Perguntei se fazia pouco tempo ou muito tempo. Ao comparar as datas mais recentes com o fim da escravidão, acharam que a abolição já fazia um tempão. Porém, quando comparamos com a data de nascimento da avó mais velha mencionada em cada turma (que disputa pelo título de neto da avó mais velha!), eles perceberam que a avó tinha nascido poucas décadas depois do fim da escravidão no Brasil, e que a Bisavó provavelmente nasceu ainda durante o período escravista. Que surpresa! Não faz tanto tempo assim. Foi quase automático encaixar um comentário condenando o racismo como uma triste herança que deverá ser superada, ainda que isso esteja demorando – claro, dito com outras palavras, mais simples. Quiseram saber se já existia fusca quando a avó nasceu ou se só andavam a cavalo, entre outras questões interessantes. Acho que meu objetivo de sensibilizá-los para a passagem do tempo e as mudanças que o acompanham foi alcançado.
Depois dessa experiência penso que nós, educadores, precisamos desenvolver diferentes estratégias para trabalhar conteúdos específicos com cada faixa etária valorizando os conhecimentos e as experiências dos alunos para apresentar a eles conhecimentos novos. Ainda não sei como trabalhar os demais conteúdos com esse enfoque construtivista, muito menos como encaminhar um projeto, mas mesmo com dúvidas e incertezas, essa recente experiência foi incentivadora.
Marcadores:
educação,
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