quinta-feira, 27 de março de 2008

Projetos de aprendizagem

Na aula do dia 25 passado tivemos um debate sobre projetos de aprendizagem, proposta pedagógica exposta no livro “Aprendizes do Futuro: as inovações começaram!”, de autoria de Léa da Cruz Fagundes.

Compartilho plenamente da opinião de que ensinar com a preocupação de transmitir conhecimentos prontos e fechados não propicia a aprendizagem de conceitos, relações e, sobretudo, o desenvolvimento de habilidades e competências. É consenso que o modelo de ensino baseado na memorização de conteúdos rigidamente definidos pelo professor já teve tempo suficiente para mostrar o quanto deixa a desejar em termos de aprendizagem. No entanto, ainda tenho incertezas sobre como colocar em prática um projeto educacional oposto a essa concepção de educação, na forma como se apresenta a proposta dos projetos de aprendizagem. Tenho dúvidas não por discordar das premissas epistemológicas e pedagógicas dos projetos de aprendizagem - pelo contrário, desde que conheço um pouco sobre construtivismo, tenho me descoberto uma adepta-aprendiz dessa teoria da educação. Falta-me clareza sobre a forma de compatibilizar as exigências da estrutura educacional com as necessidades da educação por projetos de aprendizagem.

Algumas colegas apresentaram suas dificuldades quanto ao acompanhamento dos projetos de aprendizagem individuais em várias turmas numerosas, com quarenta alunos. Outras levantaram as dificuldades de integrar os professores da escola numa postura aberta ao trabalho com projetos. Sobre essas questões ainda não me sinto habilitada para emitir opinião devido à minha falta de experiência em sala de aula – dificuldade que deverá ser atenuada a partir do próximo mês, quando vou começo a lecionar. (Obs: Felizmente estou entrando em contato com essas reflexões antes de atuar como professora, pois muitos iniciam a prática docente sem terem tido a oportunidade de refletir sobre questões de aprendizagem e seguem reproduzindo um modelo de ensino engessado há décadas e enfrentando todas as dificuldades daí advindas. Reconhecer um problema é o primeiro passo para superá-lo).

Os projetos de aprendizagem propõem possibilitar ao aluno pensar e repensar o planejamento do seu aprendizado conforme suas necessidades e seus interesses. Pressupõe-se que o aluno tem interesse em aprender e que, se não for limitado por uma estrutura de ensino opressora, ele será um agente criativo da própria aprendizagem. Será assim mesmo? Eu não sei, eu realmente não sei. Como os alunos tornam-se interessados?

Bem, se não atuei como professora, por outro lado, sou aluna e sempre me considerei curiosa... mas, pensando bem, nem sempre mostrei isso na sala de aula. Lembro que fui mal na primeira prova de Física no antigo Segundo Grau, e então resolvi matar o “monstro” e fiquei vários dias, em casa, brincando com as fórmulas, virando-as do avesso, juntando, substituindo, resolvendo diferentes problemas, etc. Mas nunca falei isso para a professora. Porque iria falar? Não fazia parte da aula, talvez ela pensasse que eu estaria inventando para agradá-la. Mas foi proveitoso para mim, consegui construir uma compreensão aprofundada sobre os conceitos e as relações entre velocidade, aceleração, distância, tempo, etc. E o mais interessante: consegui me sentir desafiada e me dediquei bastante, alcançando uma aprendizagem significativa sobre um conteúdo do qual eu nem gostava muito. No entanto, devo admitir que experiências como essa foram raras na minha época de aluna de Ensino Básico. Por quê? Posso dizer que por causa da estrutura de ensino? Parece-me que sim.

Como conciliar, num projeto pedagógico, a necessidade de transmissão de conteúdos e a de promover a aprendizagem valorizando os interesses, as capacidades e o ritmo de cada um? Em outras palavras: como desencadear a espontaneidade curiosa de que todos somos capazes e, ao mesmo tempo, transmitir o conhecimento que a humanidade já criou?

Vale observar que não faz sentido abdicar da possibilidade de transmitir conhecimentos. Usando o exemplo do estudo da física: quando eu viajar, jamais precisarei inventar relações matemáticas para calcular velocidade média, tempo de deslocamento, tempo de ultrapassagem, etc, apenas precisei aplicar um conhecimento pré-existente que aprendi. Por outro lado, a simples memorização exigida nas aulas convencionais não fomentam a aprendizagem significativa. Léa Fagundes observou que os projetos de aprendizagem propõem superar a massificação do ensino, defende a educação voltada para o aluno de modo a “orientar e respeitar sua autonomia”. Pág. 17. Com o objetivo de permitir à criança desenvolver sua capacidade, nos termos da autora, de pensar, argumentar e discutir, pergunto-me: como o professor pode planejar sua prática docente de forma a assumir o papel do especialista que orienta e, ao mesmo tempo, do colega instigador da curiosidade? Como promover o desenvolvimento de projetos de aprendizagem pelos alunos sem desistir de transmitir às novas gerações os conhecimentos já construídos pela sociedade?

Resposta: não sei. Talvez com a prática e a reflexão contínua isso se torne mais claro, mas nesse momento essas questões ainda norteiam minhas incertezas.

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