quinta-feira, 29 de maio de 2008

Desenvolvimento e aprendizagem

Em períodos de correria são justamente os momentos de reflexão que ficam prejudicados. Mas estou retomando este negligenciado portfólio. Sobretudo depois da atividade da última aula, que testou e atestou nosso restrito domínio teórico sobre aprendizagem e desenvolvimento.

Como professora formada em licenciatura, senti-me até certo ponto frustrada por ter concluído uma graduação, na qual fiz várias disciplinas de educação, sem ter aprendido essas teorias do conhecimento. Reconheço minha responsabilidade. Devo ser sincera: existe entre os alunos de licenciatura um sentimento desfavorável à faculdade de Educação, um não-reconhecimento da relevância da área de educação frente aos conteúdos específicos das faculdades de licenciatura. Por um lado, essa atitude reflete uma típica defesa de território, uma valorização do próprio curso; por outro, não deixa de ser uma postura imatura. O resultado desse distanciamento é a formação de professores desinteressados sobre a área da educação. Não é um contra-censo profissional?

Voltando à aula dessa semana. Anos depois de formada, estou colhendo os frutos dessa displicência na minha formação. O que é desenvolvimento? Como Piaget explica a aprendizagem? Tive que começar do zero. Posso me aventurar até a fazer uma crítica coletiva à nossa categoria profissional de professores: imaginei que eu seria uma das pessoas que teria mais dificuldades nesses temas, já que a maioria dos colegas de Especialização é formada em Pedagogia e, portanto, leu muito sobre Piaget, Vygotsky, etc. Enganei-me.

Mas já que o problema são os parcos conhecimentos, vou passar ao que interessa: teoria. Vou escrever grosseiramente o que compreendi sobre desenvolvimento e aprendizagem em Piaget, espero não incorrer em nenhuma grave distorção da teoria. Sinto necessidade de fazer esse esforço de síntese.

A partir da leitura da palestra de Piaget intitulada “Desenvolvimento e aprendizagem”, e das últimas aulas, ficaram para mim algumas idéias centrais. Entendi que desenvolvimento refere-se ao desenvolvimento orgânico do corpo e do cérebro, tratando-se assim de um processo espontâneo. Desenvolvimento do quê? De capacidades: estruturas de conhecimento que permitem operar as informações da realidade, ou seja, interiorizar e reverter processos de ação, além das estruturas lógicas, capazes de operar processos lógicos formais.

O desenvolvimento depende de: 1) Maturação (cerebral); 2) Experiência (necessária para formar estruturas ligadas aos conceitos operatórios – a experiência não explica o surgimento das operações formais, como as matemáticas); 3) Transmissão social (assimilação de conhecimentos já produzidos); 4) Equilibração (dos três fatores anteriores).

A equilibração é o fator central por relacionar os processos de desenvolvimento e aprendizagem. Ainda que o desenvolvimento seja um processo espontâneo, ele é influenciado pela equilibração que permite construir conhecimentos novos. Passemos para a aprendizagem.

A aprendizagem é um processo provocado por uma situação externa ao indivíduo, e não cria estruturas de conhecimento, apenas assimila conhecimentos específicos em estruturas pré-existentes. Cada aprendizagem é particular, pois se constrói na relação entre o sujeito que aprende e o objeto a ser aprendido (informação da realidade ou estímulo), construindo-se a partir das particularidades de ambos.

Por isso Piaget afirma que o desenvolvimento explica a aprendizagem, porque a aprendizagem precisar de estrutura de conhecimentos capaz de assimilar as informações novas. A idéia de etapas de aprendizagem parte desse princípio: cada aprendizagem que exige estruturas de conhecimento mais complexas precisa se basear em outra estrutura mais simples, construindo-se em etapas e de forma gradual. Isso explica a relevância do estímulo para que ocorra a aprendizagem: o estímulo pode ser simplesmente assimilado em uma estrutura de conhecimento existente ou pode provocar um desequilíbrio da estrutura já construída para fazer-se assimilar por uma nova estrutura. A mudança da estrutura de conhecimento possibilita a assimilação do estímulo novo, isto é, permite a integração de uma nova informação da realidade em uma estrutura de conhecimento.

É possível sintetizar dessa forma o processo de aprendizagem, também chamado de compensação ativa pela sua característica de reversibilidade. O processo de aprendizagem, por possibilitar que o aprendiz realize o raciocínio inverso, permite eliminar contradições, incompatibilidade e conflitos, promovendo uma auto-regulação na construção do sujeito do conhecimento.

Em poucas palavras, essa é a minha síntese até agora sobre esse tema. Já estou imaginando que daqui a algum tempo vou reler isso e vou me arrepiar de ter tido coragem de postar no blog, mas é essa a intenção: registrar as aprendizagens na medida em que ocorrem. Por desencargo de consciência, cabe apresentar uma defesa prévia: o processo de aprendizagem inclui acertos e erros...

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