Quem nunca terminou de ler um texto com a sensação de que não entendeu tudo o que o autor quis dizer? Pode ser que a leitura tenha sido superficial, ou que o conteúdo do texto escapa ao alcance da compreensão do leitor, mas ocorre também do problema ser uma certa imprecisão teórica do próprio texto. Esse deslize na elaboração escrita das idéias não é raro, especialmente em escritos originais e criativos. Essa dificuldade em precisar conceitos seria parte do processo de construção do conhecimento?
Recentemente li um capítulo de uma obra da professora Maria Cândida de Moraes com o título “Tecendo a rede, mas com que paradigma?” que me deixou com a sensação de que a base teórica não estava completamente construída.
O texto elabora e defende uma visão integrada da educação e da vida dos aprendizes, como um processo dinâmico, contínuo e inter-relacionado de aprendizagem e de formação do sujeito. Nesse sentido, é uma visão inovadora, que vislumbra um modo criativo de educar preparando os aprendizes para a vida contemporânea. É uma forte tendência em educação: integração disciplinar, integração dos processos de aprendizagem com a compreensão de aspectos da própria vida e própria constituição como sujeito, integração de alunos e professores num processo de aprendizagem construído coletivamente. Essa forma de pensar a educação parece-me muito mais apropriada do que a forma tradicional, com a qual o texto faz contraponto, baseada na memorização de conteúdos pré-programados de forma rígida. Contudo, quero registrar uma crítica relacionada à indefinição teórica desse texto em alguns momentos.
O texto defende a transdisciplinaridade e cita termos usados em outras áreas como ecologia e principalmente física quântica. A grande questão do diálogo inter ou transdisciplinar, é o risco de distorcer (por falta de precisão conceitual por ocasião da escrita ou por má compreensão) a significação conceitual de termos próprios de outras disciplinas. O significado teórico dos termos se constrói no corpo teórico próprio da disciplina, desenvolvido ao longo da história da constituição das disciplinas. Por isso é importante conhecer bem a disciplina com a qual se pretende trabalhar de forma interdisciplinar e mais ainda se for um trabalho transdisciplinar, que compreende construção colaborativa em nível teórico. Nesse sentido, discordo com a forma como foram apropriados conceitos da física. Essa questão não é exclusiva desse texto, mas tem aparecido em diversos estudos nas áreas de humanas e sociais.
Não é apropriado utilizar conceitos da física quântica (como energia) sem precisar que significado essa palavra adquire nas áreas de humanidades, no caso, da educação. Normalmente o que ocorre é uma apropriação de releituras, de interpretações por vezes até um tanto metafísicas de conceitos que foram desenvolvidos cientificamente e são essencialmente físicos. Outro problema que muitas vezes decorrente dessa apropriação apressada é a imprecisão teórica que acompanha o uso livre dessas palavras. A definição de energia na física quântica já rendeu inúmeros estudos consistentes e debates ainda abertos na ciência que cunhou o termo. Mas todo esse desenvolvimento teórico extremamente especializado geralmente escapa aos leitores das áreas humanas, ou por desconhecimento suficiente dessa parte da física, ou porque, mesmo conhecendo claramente os conceitos de física quântica, podem utilizar palavras como energia sem definir exatamente as leitor qual o significado que a palavra adquire no texto transdisciplinar. Os conceitos são construções abstratas mais ou menos complexas que precisam ser definidos, sobretudo quando utilizados fora do contexto original. Se o conceito de energia já é extremamente complexo na própria física quântica, quanto mais o será na re-elaboração de paradigmas educacionais utilizando ferramentas tecnológicas.
Como não conheço física quântica senão por artigos jornalísticos, não posso afirmar que a autora tenha feito uma relação transdisciplinar inadequada, mas destaco que apresentou os termos sem precisar os conceitos, apresentando as associações entre idéias em vez de apresentar as definições e argumentações que validam as associações feitas. E essa questão é especialmente relevante num trabalho que pretende construir o diálogo entre diferentes disciplinas, pois a utilização de conceitos de outras disciplinas não tem o objetivo de trazer uma suposta cientificidade para o texto. Ao contrário, o diálogo entre diferentes áreas pretende elaborar conhecimentos novos embasados teoricamente, respeitando o conhecimento já construído em cada disciplina ou área do conhecimento.
Um tema pode ser trabalhado de forma transdisciplinar articulando conceitos de áreas diferentes, definindo e mostrando como cada conceito participa na elaboração das novas concepções transdisciplinares. Contudo, nesse exercício, é importante respeitar as definições próprias de cada área para evitar definições incorretas, distorções, simplificações ou mesmo indefinições em qualquer uma das áreas do conhecimento relacionadas no estudo. Sem esse cuidado, o estudo que se pretendia transdisciplinar pode resultar num conjunto de idéias associadas – o que pode ser muito interessante, criativo a inspirador, mas não constitui um trabalho transdisciplinar.
As associações entre idéias que não estão claramente embasadas teoricamente deixam espaço para dúvidas, mesmo que sejam associações corretas entre ótimas idéias. Talvez o preço a ser pago pela grande criatividade e arejamento de relações conceituais seja uma “liberdade” na interpretação que deixa certas incertezas sobre a pertinência ou mesmo validade dessas relações. Talvez seja apenas o preço a ser pago pela coragem de buscar construir concepções absolutamente inovadoras. Ainda assim, nunca é demais tentar precisar com bastante atenção o que se quer dizer, ainda mais se tratando de construção de idéias originais. Recentemente li um capítulo de uma obra da professora Maria Cândida de Moraes com o título “Tecendo a rede, mas com que paradigma?” que me deixou com a sensação de que a base teórica não estava completamente construída.
O texto elabora e defende uma visão integrada da educação e da vida dos aprendizes, como um processo dinâmico, contínuo e inter-relacionado de aprendizagem e de formação do sujeito. Nesse sentido, é uma visão inovadora, que vislumbra um modo criativo de educar preparando os aprendizes para a vida contemporânea. É uma forte tendência em educação: integração disciplinar, integração dos processos de aprendizagem com a compreensão de aspectos da própria vida e própria constituição como sujeito, integração de alunos e professores num processo de aprendizagem construído coletivamente. Essa forma de pensar a educação parece-me muito mais apropriada do que a forma tradicional, com a qual o texto faz contraponto, baseada na memorização de conteúdos pré-programados de forma rígida. Contudo, quero registrar uma crítica relacionada à indefinição teórica desse texto em alguns momentos.
O texto defende a transdisciplinaridade e cita termos usados em outras áreas como ecologia e principalmente física quântica. A grande questão do diálogo inter ou transdisciplinar, é o risco de distorcer (por falta de precisão conceitual por ocasião da escrita ou por má compreensão) a significação conceitual de termos próprios de outras disciplinas. O significado teórico dos termos se constrói no corpo teórico próprio da disciplina, desenvolvido ao longo da história da constituição das disciplinas. Por isso é importante conhecer bem a disciplina com a qual se pretende trabalhar de forma interdisciplinar e mais ainda se for um trabalho transdisciplinar, que compreende construção colaborativa em nível teórico. Nesse sentido, discordo com a forma como foram apropriados conceitos da física. Essa questão não é exclusiva desse texto, mas tem aparecido em diversos estudos nas áreas de humanas e sociais.
Não é apropriado utilizar conceitos da física quântica (como energia) sem precisar que significado essa palavra adquire nas áreas de humanidades, no caso, da educação. Normalmente o que ocorre é uma apropriação de releituras, de interpretações por vezes até um tanto metafísicas de conceitos que foram desenvolvidos cientificamente e são essencialmente físicos. Outro problema que muitas vezes decorrente dessa apropriação apressada é a imprecisão teórica que acompanha o uso livre dessas palavras. A definição de energia na física quântica já rendeu inúmeros estudos consistentes e debates ainda abertos na ciência que cunhou o termo. Mas todo esse desenvolvimento teórico extremamente especializado geralmente escapa aos leitores das áreas humanas, ou por desconhecimento suficiente dessa parte da física, ou porque, mesmo conhecendo claramente os conceitos de física quântica, podem utilizar palavras como energia sem definir exatamente as leitor qual o significado que a palavra adquire no texto transdisciplinar. Os conceitos são construções abstratas mais ou menos complexas que precisam ser definidos, sobretudo quando utilizados fora do contexto original. Se o conceito de energia já é extremamente complexo na própria física quântica, quanto mais o será na re-elaboração de paradigmas educacionais utilizando ferramentas tecnológicas.
Como não conheço física quântica senão por artigos jornalísticos, não posso afirmar que a autora tenha feito uma relação transdisciplinar inadequada, mas destaco que apresentou os termos sem precisar os conceitos, apresentando as associações entre idéias em vez de apresentar as definições e argumentações que validam as associações feitas. E essa questão é especialmente relevante num trabalho que pretende construir o diálogo entre diferentes disciplinas, pois a utilização de conceitos de outras disciplinas não tem o objetivo de trazer uma suposta cientificidade para o texto. Ao contrário, o diálogo entre diferentes áreas pretende elaborar conhecimentos novos embasados teoricamente, respeitando o conhecimento já construído em cada disciplina ou área do conhecimento.
Um tema pode ser trabalhado de forma transdisciplinar articulando conceitos de áreas diferentes, definindo e mostrando como cada conceito participa na elaboração das novas concepções transdisciplinares. Contudo, nesse exercício, é importante respeitar as definições próprias de cada área para evitar definições incorretas, distorções, simplificações ou mesmo indefinições em qualquer uma das áreas do conhecimento relacionadas no estudo. Sem esse cuidado, o estudo que se pretendia transdisciplinar pode resultar num conjunto de idéias associadas – o que pode ser muito interessante, criativo a inspirador, mas não constitui um trabalho transdisciplinar.
Como aprendizado, para mim, foi bom retomar as reflexões sobre interdisciplinaridade justamente num texto que se propõe a fazê-lo mas, a meu ver, não o faz de forma clara para o leitor.
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