quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Salão de Iniciação Científica

No Salão de Iniciação Científica da UFRGS que está sendo realizado nesta semana, assisti à apresentação do graduando José Vicente Moreira Mello intitulada Interfaces entre linguagens dinâmicas e o problema da simetria: o caso do PPH. A orientadora é a professora Cíntia Inês Boll, da FACED.

O estudante apresentou reflexões teóricas sobre formação de professores com base na sua experiência na programação dos softwares para professores de cursos à distância da UFRGS.
A idéia central apresentada, ao meu ver, é de que as ferramentas de comunicação e de visualização das atividades e metodologias a serem desenvolvidas pelos alunos dinamizam as trocas de idéias entre alunos e professores e dos alunos entre si, favorecendo a substituição de um ensino linear por um ensino participativo mais integrado.
Na base disso está determinada concepção do processo de ensino-aprendizagem indicada no título. A chamada simetria invertida ocorre entre a atuação de professor e a de aluno, isto é: vivendo o papel de aluno, aprende-se a ser professor. A cooperação entre os dois papéis e a meta-reflexão do professor são partes desse processo de aprendizagem, que tem como ponto alto a troca de idéias e experiências. As ferramentas computacionais hipermididáticas facilitam essa comunicação ampla, assim como a visualização das atividades dos alunos pelos professores e por todos os alunos.
O aperfeiçoamento dos softwares conta com o feedback negativo dos professores, que avaliam o uso dos instrumentos tecnológicos no trabalho cotidiano. Por outro lado, a dedicação do graduando José Vicente em estudar as potencialidades didático-pedagógicas da tecnologia com que trabalha certamente contribui para o aprimoramento dessas técnicas.
Considero especialmente interessante a idéia de intensificar não apenas as trocas entre os professores e alunos, mas também a importância da simetria invertida na formação dos professores, pois, ao que entendi, ao utilizarem estas ferramentas, eles mesmos se aproximam da função de alunos.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Aula do dia 02/10/2007

O tema da aula foi a utilização de evidências e argumentos na análise e na tomada de consciência do processo de aprendizagem.
Síntese da aula: a discussão serviu de orientação para a construção do portfólio de aprendizagens (registrado neste blog), no qual deverão constar sucessivas reflexões relacionadas às evidências de aprendizagem e à construção dos argumentos – que dão sentido à aprendizagem. Os alunos que atuam como tutores devem orientar seus alunos de EAD a fazerem seus próprios portfólios. Apesar de ser uma construção pessoal, cada inserção deve apresentar evidências e argumentos que tornem as reflexões claras para o próprio autor do portfólio e para a leitura dos professores e colegas. Além dessa construção continuada, haverá momentos de retomada e análise retroativa do nosso processo de aprendizagem, quando muitos pensamentos registrados poderão ser compreendidos de modo mais maduro, marcando as fases de aprendizagem.

Reflexões pós-aula

Cheguei à aula sem saber como seria, já que estou iniciando o contato com educação a distância nesse curso. A aula iniciou com bastante discussão e liberdade para todos colocarem suas opiniões, por vezes se afastando do tema central, que era debater evidências e argumentação para a construção do portfólio de aprendizagens. Depois de me perguntar algumas vezes aonde aquela aula iria chegar, acho que tive meu primeiro aprendizado: a dinâmica da aula não é “conteudista”, ou seja, o conteúdo não é despejado sobre os alunos que precisam “dar conta” de aprender, mas o conhecimento a ser formado amadurece no decorrer da aula com ampla participação dos alunos.
A assimilação de conteúdo é apenas uma das formas de aprendizagem. No curso para tutores de Educação a Distância estão se formando novos conhecimentos técnico, didático e pedagógico com base na experiência de EAD. O curso está em andamento e bem estruturado, mas os conhecimentos sobre essa forma de ensino, apesar da difusão rápida da Internet e dos cursos a distância, permanecem em aprimoramento – pelo que tenho lido, a modalidade ainda se consolida no Brasil, pois foi regulamentada pela primeira vez há menos de dez anos. Por isso, a função dos alunos não será apenas a de receptores de conhecimento, mas de colaboradores de uma construção. Como a maioria dos alunos atua como tutor, podem analisar a si mesmos como alunos e como tutores, ao mesmo tempo em que podem contribuir no aprimoramento constante tanto do curso para tutores quanto do próprio projeto de EAD.
A dinâmica de construção do conhecimento no curso para tutores é coletiva e necessariamente bastante integrada, pois tutores e professores de diferentes áreas trocam informações constantemente em seus trabalhos nos pólos de EAD. Esse processo conduz ao necessário diálogo entre diferentes métodos, conteúdos, conceitos, teorias e, porque não, valores e visões de mundo relacionadas às diferentes especialidades desses profissionais. A dificuldade inerente a esse processo é o tempo necessário para construir uma interação madura entre diferentes áreas. As vantagens, contudo, são visivelmente preponderantes, pois me parece que a prática constantemente auto-reflexiva, com amplas discussões, é a maneira mais adequada para formar tutores envolvidos no aprimoramento de suas capacidades de se relacionar com os colegas e de orientar os alunos. Além de formar tutores, a ampla participação e discussão também favorecem o amadurecimento constante da metodologia de EAD.
Percebo que a Educação a distância mostra possibilidades e impõe desafios, os quais terei de analisar e compreender melhor.

Anotações complementares sobre a Atividade 1

A atividade relacionada com a aula do dia 02/10/2007 tinha como objetivo a compreensão de evidências e argumentos a partir da análise do filme Doze homens e uma sentença. Tendo em vista a profundidade do filme na construção de personalidades e de comportamentos dos personagens, decidi registrar aqui reflexões que fiz, após assistir ao filme, sobre a complexidade do trabalho em grupo.

1. Buscar a disposição de todos para dialogar
A maior dificuldade do jurado principal do filme, o único que discordava da sentença “culpado”, não foi convencer os demais da possível inocência do réu – pois o jurado não estava convencido da inocência, apenas não tinha certeza da culpa –, mas foi conseguir certa abertura para o debate. As maiores contendas não se deram em torno das evidências, ou das construções argumentativas, e sim para mobilizar a disposição dos demais onze jurados para debater outras possibilidades, que divergiam de suas convicções. Aparece claramente a resistência – quando não revolta – de vários jurados contra a insistência em rever evidências e tocar nas próprias convicções.
2. Deixar o nível de disputa pessoal para conduzir o debate e dar-lhe sentido
O jurado principal, que incitou o debate, ouviu muitos deboches (como “sempre tem um...”) e mesmo acusações (“você quer ser teimoso e causar transtorno”). Nesse ponto, a tendência era levar para o lado pessoal, como numa disputa, num jogo. Fica claro isso quando o jurado principal amassa uma folha de papel, onde outros jurados rabiscavam um jogo da velha, e diz veementemente: “isso não é um jogo!”.
3. Abandonar convicções apressadas e amadurecer o debate com base em evidências e argumentos
Aceita a possibilidade (ou a inevitabilidade) do debate e quebradas algumas das resistências, as discussões passaram a amadurecer e selecionar o que realmente deveria pesar na tomada de decisões. Surgem comentários do tipo: “O tipo de garoto que ele é não determina o veredicto, os fatos determinam”. Estava formada a base para o diálogo, havia certa disposição. Assim, um a um, os fatos foram relembrados, as possibilidades enumeradas, as evidências postas em questão, os argumentos recompostos. Se não havia provas de inocência, o fato é que também não havia provas irrefutáveis de culpa; logo, não foi condenado. A frase do jurado principal, apresentada logo nos primeiros minutos do filme indica que a dúvida sempre é válida: “Nada é tão convincente. Nada”.
4. Ser autêntico
Muito interessante foi observar o comportamento de grupo dos jurados. Como onze dos doze acreditavam na culpa do réu, muitos começaram a revelar um comportamento exaltado e corajoso de enfrentamento que, depois de avançadas as discussões e do aparecimento de algumas incertezas, já não demonstravam mais. O primeiro momento de ruptura desse efeito “coletividade” foi na votação secreta, com papéis, quando cada um teve que decidir por si, sem se apoiar no conhecimento da opinião dos outros. Em outro momento, um dos jurados chegou a ser chamado de “maria-vai-com-as-outras”.
5. Compreender a dinâmica do grupo, as trocas e o processo de entendimento mútuo
O que torna o filme interessante não é a reconstrução dos fatos do crime, embora seja uma parte criativa e inteligente. É mais envolvente a dinâmica de superação das resistências, tanto de grupo quanto individuais, a derrubada de convicções, de preconceitos e arrogâncias, as reações a situações de tensão emocional, as motivações emocionais profundas dos personagens que confundem sua visão da realidade. Parece-me que a força do trabalho em equipe está na superação individual e na soma de capacidades – apesar e para além das contendas.