A atividade relacionada com a aula do dia 02/10/2007 tinha como objetivo a compreensão de evidências e argumentos a partir da análise do filme Doze homens e uma sentença. Tendo em vista a profundidade do filme na construção de personalidades e de comportamentos dos personagens, decidi registrar aqui reflexões que fiz, após assistir ao filme, sobre a complexidade do trabalho em grupo.
1. Buscar a disposição de todos para dialogar
A maior dificuldade do jurado principal do filme, o único que discordava da sentença “culpado”, não foi convencer os demais da possível inocência do réu – pois o jurado não estava convencido da inocência, apenas não tinha certeza da culpa –, mas foi conseguir certa abertura para o debate. As maiores contendas não se deram em torno das evidências, ou das construções argumentativas, e sim para mobilizar a disposição dos demais onze jurados para debater outras possibilidades, que divergiam de suas convicções. Aparece claramente a resistência – quando não revolta – de vários jurados contra a insistência em rever evidências e tocar nas próprias convicções.
2. Deixar o nível de disputa pessoal para conduzir o debate e dar-lhe sentido
O jurado principal, que incitou o debate, ouviu muitos deboches (como “sempre tem um...”) e mesmo acusações (“você quer ser teimoso e causar transtorno”). Nesse ponto, a tendência era levar para o lado pessoal, como numa disputa, num jogo. Fica claro isso quando o jurado principal amassa uma folha de papel, onde outros jurados rabiscavam um jogo da velha, e diz veementemente: “isso não é um jogo!”.
3. Abandonar convicções apressadas e amadurecer o debate com base em evidências e argumentos
Aceita a possibilidade (ou a inevitabilidade) do debate e quebradas algumas das resistências, as discussões passaram a amadurecer e selecionar o que realmente deveria pesar na tomada de decisões. Surgem comentários do tipo: “O tipo de garoto que ele é não determina o veredicto, os fatos determinam”. Estava formada a base para o diálogo, havia certa disposição. Assim, um a um, os fatos foram relembrados, as possibilidades enumeradas, as evidências postas em questão, os argumentos recompostos. Se não havia provas de inocência, o fato é que também não havia provas irrefutáveis de culpa; logo, não foi condenado. A frase do jurado principal, apresentada logo nos primeiros minutos do filme indica que a dúvida sempre é válida: “Nada é tão convincente. Nada”.
4. Ser autêntico
Muito interessante foi observar o comportamento de grupo dos jurados. Como onze dos doze acreditavam na culpa do réu, muitos começaram a revelar um comportamento exaltado e corajoso de enfrentamento que, depois de avançadas as discussões e do aparecimento de algumas incertezas, já não demonstravam mais. O primeiro momento de ruptura desse efeito “coletividade” foi na votação secreta, com papéis, quando cada um teve que decidir por si, sem se apoiar no conhecimento da opinião dos outros. Em outro momento, um dos jurados chegou a ser chamado de “maria-vai-com-as-outras”.
5. Compreender a dinâmica do grupo, as trocas e o processo de entendimento mútuo
O que torna o filme interessante não é a reconstrução dos fatos do crime, embora seja uma parte criativa e inteligente. É mais envolvente a dinâmica de superação das resistências, tanto de grupo quanto individuais, a derrubada de convicções, de preconceitos e arrogâncias, as reações a situações de tensão emocional, as motivações emocionais profundas dos personagens que confundem sua visão da realidade. Parece-me que a força do trabalho em equipe está na superação individual e na soma de capacidades – apesar e para além das contendas.
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