quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Debate construtivo em sala de aula

O que foi que a graduação fez com vocês, que hoje vocês não se sentem autorizados a selecionar textos, discutir, formar grupos?
Essa questão colocada pela prof. Marie Jane ficou ecoando no meu pensamento. Bem, comecemos pelo início. No final da aula discutíamos certezas provisórias e dúvidas temporárias sobre este portfólio de aprendizagens, quando alguns colegas levantaram uma discussão que poderia ser resumida num pedido de um cronograma de leituras feito pelos professores para os alunos – como recebíamos na graduação. Os professores passaram a ressaltar aquilo que já parecia claro: já somos todos formados, este é um curso de pós-graduação e, além disso, voltado para o Ensino a Distância, uma modalidade que exige maior autonomia e iniciativa dos alunos e dos professores. Além disso, lembro-me que foi sugerido numa das aulas anteriores que formássemos grupos de discussão procurando colegas que compartilhassem interesses de pesquisa afins. Com o debate do final da aula, novamente surgiu essa sugestão, acolhida com interesse por alguns e ainda com insegurança por outros.
O que foi que a graduação fez com vocês, que hoje vocês não se sentem autorizados a selecionar textos, discutir, formar grupos?
A prof. comentou ainda que, muitas vezes, só no Doutorado é que se consegue autonomia e auto-confiança para selecionar e definir o que é relevante. Concordei absolutamente com isso, porque eu mesma estou vivendo essa experiência. Hoje eu me sinto preparada para ler qualquer texto da minha área e fazer uma crítica ao menos relativamente embasada – avaliando positiva ou negativamente –, mas posso dizer que até o final do mestrado eu ainda tinha muito receio... de errar. Mas minha forma de aprender e pesquisar somente melhorou com esforço individual, correndo atrás de textos, sites, arquivos, conversando com professores e colegas, procurando aportes metodológicos e teóricos de outras áreas, fazendo disciplinas no Desenvolvimento Rural e na Economia e lendo sobre políticas educacionais. Foi assim que consegui mapear e definir no projeto de doutorado exatamente o tema que eu desejava abordar, relacionado ao problema da pobreza e das acentuadas desigualdades sociais. Sinto-me satisfeita por ter conseguido elaborar um projeto muito peculiar a partir da minha persistência, e também por ter descoberto o único método de pesquisa que realmente funciona: furungar. Desculpe, quem ler, pela palavra “comum”, mas é isso mesmo – afinal, o ideal é que se torne efetivamente comum furungar em bibliotecas, sites, etc, etc.
Parece-me relevante colocar aqui esse relato da minha experiência porque nessa especialização, não somos apenas alunos – nos termos tradicionais –, mas somos co-autores do projeto de Formação de Tutores. Os professores ressaltaram na aula que somos co-autores porque todos temos que contribuir com o desenvolvimento constante da tutoria em EaD, refletindo sobre experiências, dúvidas e aprendizagens, dialogando e interagindo. Construir um curso com essa perspectiva, pode-se dizer de equipe, parece ousado e desafiador, mas concordo que trabalhando dessa forma será possível superar o comodismo receptivo do ensino tradicional e desenvolver aprendizes e orientadores com perspectivas mais amplas sobre educação.
Bem, como avalio minha posição nessa proposta educacional? De um lado, sinto-me relativamente segura no aspecto da autonomia para a pesquisa, mas por outro, dei-me conta de que também sou um produto do ensino tradicional. Não tenho muita experiência com atividades interativas, às vezes chego a me sentir travada. Já estava atinando para isso lendo sobre a necessidade de diálogo na educação na perspectiva de Otto Peters, mas agora, na aula dessa semana, entendi isso de forma mais madura: não sei pensar muito bem numa atividade de interação educacional de forma didática, pedagógica. (Acho que vai me ajudar a leitura que iniciei do capítulo 3 de Didática da Educação a Distância, de Otto Peters). No entanto, percebi que essa dificuldade de diálogo perpassa, de diferentes formas, muitos colegas de outras áreas. Fiquei surpresa com a colocação de um colega de que é difícil selecionar textos que possibilitem dialogar com pessoas de outra área, e por isso os professores teriam que indicar textos para leitura. Discordo. Ora, justamente compreendendo aportes de outras áreas é que conseguimos olhar para nosso próprio campo de estudo com o distanciamento necessário para uma análise criteriosa. Que sentido tem a interdisciplinariedade ou a transdisciplinariedade se aceitamos nossa incapacidade de diálogo? Que sentido há em buscar uma concepção ampla de ser educador se nos conformamos com o fato de que só conhecemos uma área e não sabemos dialogar com as outras, como se fosse desnecessário?
Conforme nossa curiosidade aumenta sobre determinada questão, torna-se imprescindível procurar novos conhecimentos, por vezes de áreas diversas, e então sentimos a necessidade de dialogar com outras áreas e interagir com outros estudantes ou profissionais. Entender novos aportes teóricos e conhecer outros problemas de estudo abrem um mundo até então desconhecido, e essa experiência sempre enriquece. Por vezes, iniciamos um estudo com um ponto de vista simplista sobre determinado tema e, ao final do processo, nem a formulação das questões iniciais resistiram ao nosso questionamento e às nossas críticas constantes – mas esse aprimoramento só ocorre se mantivermos postura receptiva e aberta à auto-crítica. Mas, pensando melhor, esse diálogo disciplinar, metódico, é apenas um tipo de diálogo. O diálogo espontâneo em sala de aula pode se tornar mais dispersivo, mais desorganizado... bem, e a essas alturas, começo a achar que isso é bom como método pedagógico. O que para um parece dispersividade, para outro pode ser o cerne de sua dúvida. Bem, Marcia, vamos aprender a dialogar, a entender e se fazer entender, a rever as próprias concepções e influenciar as dos outros. Argumentar.
Vou ler mais sobre diálogo, e então refletirei mais um pouco. Para mim, esse tema não se esgotou ainda.

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